A Polícia Civil do Rio de Janeiro realiza na manhã desta terça-feira (10) uma operação para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra integrantes do T (Terceiro Comando Puro), grupo criminoso que atua na região chamada Complexo de Israel, na zona norte. Onze pessoas foram presas e três fuzis foram apreendidos até a última atualização divulgada pela polícia.

Moradores relatam um tiroteio intenso desde o início da manhã. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram motoristas e ageiros de ônibus e BRT agachados no chão e atrás de muretas nas vias expressas.

Ao menos duas pessoas ficaram feridas. Uma delas é motorista de uma linha de ônibus que ava pela avenida Brasil no momento do tiroteio. Outro baleado foi Manoel Américo da Silva, 60, ageiro de um ônibus que estava na Linha Vermelha.

Silva foi atingido por um tiro no ombro esquerdo. Ele foi levado ao Hospital Geral de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e ou por procedimentos de urgência. O quadro de saúde é estável, de acordo com a unidade de saúde.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra momentos de tensão de ageiros de um ônibus que trafegava por uma via expressa. "Vai embora, vai rápido", diz um dos ageiros ao motorista. Outro ageiro tenta manter a calma. "Tem muro aqui para proteger a gente. Vamos continuar abaixados, beleza? A gente vai ar".

Veja vídeo:

Reflexos na cidade

A avenida Brasil foi fechada nos dois sentidos na altura da Penha. O bloqueio durou das 6h até por volta das 7h40. A Linha Vermelha também foi interditada.

A Prefeitura do Rio colocou a cidade em estágio 2 de atenção, numa escala que vai até 5. O estágio 2 é acionado quando há "risco de ocorrências de alto impacto na cidade", segundo o município.

A operação afetou a circulação de trens do ramal Saracuruna, entre as estações Central do Brasil e Penha e entre as estações Duque de Caxias e Gramacho, que ficaram com intervalo médio de 30 minutos, segundo a SuperVia.Os serviços do BRT também foram interrompidos no corredor Transbrasil devido a operação policial, segundo o BRT Mobi Rio.

Um colégio estadual e 21 escolas municipais da região foram impactadas, com atividades suspensas no turno da manhã ou totalmente fechadas. Quatro unidades de saúde fecharam por conta do tiroteio.

De acordo com o Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus, 50 linhas estão com itinerários prejudicados. A maior parte delas faz o trajeto da zona norte ao centro, maior fluxo da parte da manhã.

A operação

A operação é liderada pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes, com apoio da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e de delegacias da capital, da Baixada Fluminense e interior.

Segundo a Polícia Civil, a ação é resultado de sete meses de investigações. Quarenta e quatro suspeitos de envolvimento com o tráfico no Complexo de Israel que não tinham mandados anteriores foram identificados.

"A operação integra uma série de ações da instituição voltadas ao desmantelamento da estrutura criminosa do T na região", diz nota oficial da corporação.

O grupo é liderado por Malaquias Santa Rosa, o "Peixão", considerado um dos maiores traficantes do estado, e que atua nas comunidades de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau.

Segundo a polícia, a facção usa barricadas para controlar a região e drones para monitorar as forças de segurança. Também promove toque de recolher e monopoliza os serviços públicos, além de estimular a intolerância religiosa.

Peixão, que associou seu domínio a símbolos cristãos e judaicos, como a estrela de Davi e a bandeira de Israel, é acusado de expulsar pais de santo e ordenar a destruição de centros de umbanda e candomblé.

Entre as acusações contra Peixão estão a de intimidação de moradores, expulsão de rivais, ataques a agentes de segurança e ações coordenadas para impedir operações policiais.
Uma estrela de Davi de neon que ficava no alto de uma caixa d'água em uma das entradas da Cidade Alta fora retirada em uma operação em março.

A Polícia Civil diz que a investigação que culminou na operação desta terça mostrou a criação de um núcleo do T especializado em abater aeronaves policiais, "composto por criminosos com armamento pesado e treinamento específico".

Outros grupos do T atuam no "monitoramento de viaturas, queima de ônibus e organização de protestos simulados com o objetivo de obstruir o trabalho policial".

Além das prisões, a operação tem o objetivo apreender armas de fogo, drogas, rádios comunicadores, aparelhos eletrônicos e documentos.

Duas construções que seriam usadas por traficantes como abrigo e pontos estratégicos de ataque serão demolidas, com autorização judicial.